domingo, 23 de novembro de 2014

EQUILÍBRIO E REFLEXÃO

Ao sair do hospital, Jonas caminhava rumo ao metrô, observando tudo a sua volta e aceitando mais o fato de que ele era responsável pela pessoa que se tornou, independentemente das influências externas. Sabia que somente ele poderia decidir como agiria daqui em diante. Ninguém, a não ser ele, era culpado por suas atitudes e pelo seu jeito de ser, incluindo suas fugas e seus lapsos inconscientes de memória. 

A vida ainda o ajudava, mostrando sinais, proporcionando as oportunidades para que ele pudesse escolher qual caminho percorrer. Seus sonhos indicavam as circunstâncias que foram marcando sua personalidade e despertando nele indagações sobre seu convívio social. O que poderia ter sido diferente se ele tivesse reagido, e não fugido, nas vezes em que foi confrontado? 

Após uma parada no Café Mercatto para comprar um saboroso sanduíche de chorizo com queijo e tomates secos e um suco de laranja, Jonas seguiu rumo a Montjuic, onde esperava encontrar paz para apreciar a natureza e refletir. Ao chegar ao local que lhe pareceu mais apropriado, Jonas pôde relaxar e desfrutar do silêncio e da tranquilidade, para pensar em tudo o que estava acontecendo. Era muita informação nova, muitos conceitos desconhecidos. Jonas não entendia como levou tanto tempo para se descobrir. Ao mesmo tempo, ele sabia que sua nova jornada seria longa e que estava apenas começando. 

Jonas comia o sanduíche e pensava na conversa com Pilar, enquanto observava as crianças brincando em um gramado próximo. Veio nele um pensamento que sempre o acompanhava em sua infância – desejava ter tido um irmão. Era claro o quanto ele sempre foi carente de afeto, de companhia e que sua vida se resumiu a viver na solidão.  

Agora, antes que ele caísse em depressão, as palavras de Pilar lhe lembravam de que ele teve opções e que, se hoje ele não tinha um amigo com quem compartilhar suas alegrias e tristezas, era por sua própria culpa. Estava na hora de Jonas parar de julgar as pessoas e de afastá-las do seu convívio, incluindo seus pais, tios, primos, colegas de trabalho. Muita coisa tinha de mudar, desde seus conceitos e valores, até seus hábitos e manias. 

Sem planejar muito  que fazer, Jonas fechou seus olhos, enquanto mastigava o último pedaço do saboroso sanduíche de chorizo com queijo e tomates secos. Como se estivesse conectado com a natureza, Jonas ouvia o canto dos pássaros, o balançar das folhas, sentia o perfume das flores, o cheiro agradável da grama úmida. Sua audição e seu olfato estavam aguçados. Mesmo sem sua visão, ele podia enxergar uma luz brilhando na sua frente, cada vez de uma cor diferente. Branca, amarela, laranja, verde, prata, sempre clara e brilhante. 

Assim como planejava Pilar, quando o aconselhou a procurar um lugar tranquilo, ele agora se encontrava em um estado de consciência pura, livre de interferências. As luzes que enxergava nada mais eram que energias revigorantes, que o envolviam e lhe transmitiam um bem-estar nunca antes por ele experimentado. Tudo contribuía para esse estado pleno de equilíbrio e reflexão.  

Sua produção de energia estava a todo vapor, desde o primeiro momento em que conheceu Pilar, quando, gentilmente, a resgatou na saída de estação. E, para que nada disso fosse em vão, Jonas teria de fazer novas escolhas, procurar novos caminhos que o levariam à evolução. Como executar tudo o que lhe foi passado? Qual seria o próximo passo para que ele pudesse se encontrar, em sua verdadeira essência, harmonizando o consciente e o inconsciente em uma só frequência?

trecho da obra Jonas Dante-Vigo - lançamento em dezembro/2014 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

VOCÊ TEM O DIREITO DE ERRAR

Quando pensava no que escrever para meu novo post, cheguei a conclusão que deveria falar sobre terceirização. Foi tiro e queda. Eu já sabia exatamente qual seria minha abordagem sobre o tema, para falar da dificuldade que muitos de nós têm em assumir nossas responsabilidades e as consequências de nossas atitudes. O que eu não contava era com a enorme dificuldade em colocar tudo no papel (ou melhor, na tela). Foram dias malsucedidos, tentando esboçar algo que me agradasse, até que finalmente encontrei a conexão que procurava, em duas músicas - uma que tocava incessantemente na minha cabeça e outra que costumo ouvir no carro.

Em Right to be wrong, Joss Stone expressa o direito que temos de errar. Em um dos versos, a cantora de soul inglesa praticamente susurra, com a bela voz que Deus lhe deu: “Meus erros me farão uma pessoa forte”. Em Tempo perdido, uma entre tantas músicas brilhantes da banda Legião Urbana, o poeta Renato Russo diz: “Todos os dias, antes de dormir, lembro e esqueço como foi o dia”. Não sei se você já enxergou a conexão ou se eu exagerei na dose de minha imaginação, mas para mim, os trechos destacados de cada uma das canções, de certa forma, se completam.

A começar pelo direito de errar. A sociedade muitas vezes nos impõe conceitos que carregamos sem questionar. Esses conceitos criam bloqueios que ficam gravados em nosso inconsciente. Desde nossa infância, nossos tempos de escola, convivemos com a ideia de que se errarmos, podemos virar motivo de chacota. Se todo mundo acerta, por que você vai errar? Esse bloqueio, que pode aumentar ou até mesmo ser eliminado ao longo de nossas vidas, nos priva de nossa verdadeira liberdade, provocando nas pessoas uma forte resistência em assumir erros. Mais difícil que assumir é aceitar que erramos e entender o porquê de tal ato falho.

Aí que entra o Tempo perdido. E se todos os dias, antes de dormir, lembrássemos como foi o dia? E se ao invés de esquecermos, pudéssemos analisar e identificar onde erramos, para aprendermos mais com nossos erros e nos tornarmos pessoas mais fortes? Não seria essa nossa missão na Terra – aprender com nossas limitações e evoluir?

Sei que a vida não é um mar de rosas. Já ouvi falar também que a vida é um grande aprendizado. E não é segredo pra ninguém que nem tudo sai como planejamos. Esquecemos de pegar aquela sacola antes de sair de casa. Perdemos a hora e chegamos atrasados na escola ou naquela reunião. Não conseguimos encontrar aquele tão desejado emprego. Fracassamos na incumbência que nos foi dada. Deixamos aquele amigo tão importante na mão. Somos escorraçados se deixamos um prato cair, entre tantos que precisamos carregar ao mesmo tempo. E o que fazemos? 

Aí que entra a terceirização. O termo em questão já é muito conhecido no meio empresarial. Terceirização nada mais é que a prática de repassar a terceiros uma atividade da empresa, seja esta na linha de produção, manutenção, nas áreas financeira, contábil, jurídica, marketing, operações, recursos humanos, entre outras. Hoje em dia, é muito comum que empresas de grande, médio, ou até mesmo pequeno porte, optem por terceirizar certas atividades, com o intuito de reduzir custos ou simplesmente para não terem o trabalho de recrutar, treinar e capacitar profissionais, para uma atividade que não tem a ver com o principal negócio da empresa.

Tem muita gente que, assim como as empresas, terceiriza tudo que possa ser mais complicado de encarar ou que possa custar mais caro de assumir, pelo menos aos seus próprios olhos. Terceirizam seus erros, suas culpas, suas lições. É muito mais fácil encontrar desculpas que soluções. Culpamos o telefone que tocou quando estávamos com a sacola na mão, quase fechando a porta de casa, o trânsito, a superproteção de nossos pais, nossos filhos, outros departamentos, ou até mesmo outro amigo. Somos fracos ao buscarmos nos outros a causa por nossos atos falhos ou por influências que nos induziram ao erro. E há quem ainda se julgue esperto.

Além de tudo isso, antes de dormir ainda terceirizamos nossos sonhos, pois é mais fácil também pedirmos a entidades maiores por aquilo que almejamos, do que fazermos nós mesmos. Será que nossos pedidos serão atendidos? Não seria mais fácil e mais digno buscarmos o que queremos com força e determinação? Simples assim. Se você quer, faça. Se precisar, recomece.

Em outro verso de sua música, Joss Stone diz que está em uma missão. Tal qual como ela, acredito também estar em uma missão e sei que tenho o direito de errar, ao longo do caminho. É minha escolha poder aprender com meus erros, aceitar minhas limitações, me manter positivo e buscar eu mesmo ir atrás daquilo que desejo. E todos os dias antes de dormir, poderei lembrar como foi o dia e pensar em como ser uma pessoa melhor, pedindo a entidades maiores que iluminem meu caminho e não ofusquem minha visão, para eu tomar minhas decisões da melhor maneira possível e me tornar tudo o que eu posso ser.