Ao sair
do hospital, Jonas caminhava rumo ao metrô, observando tudo a sua volta e
aceitando mais o fato de que ele era responsável pela pessoa que se tornou,
independentemente das influências externas. Sabia que somente ele poderia
decidir como agiria daqui em diante. Ninguém, a não ser ele, era culpado por
suas atitudes e pelo seu jeito de ser, incluindo suas fugas e seus lapsos
inconscientes de memória.
A vida
ainda o ajudava, mostrando sinais, proporcionando as oportunidades para que ele
pudesse escolher qual caminho percorrer. Seus sonhos indicavam as
circunstâncias que foram marcando sua personalidade e despertando nele
indagações sobre seu convívio social. O que poderia ter sido diferente se ele
tivesse reagido, e não fugido, nas vezes em que foi confrontado?
Após uma
parada no Café Mercatto para comprar
um saboroso sanduíche de chorizo com queijo e tomates secos e um suco de
laranja, Jonas seguiu rumo a Montjuic,
onde esperava encontrar paz para apreciar a natureza e refletir. Ao chegar ao
local que lhe pareceu mais apropriado, Jonas pôde relaxar e desfrutar do
silêncio e da tranquilidade, para pensar em tudo o que estava acontecendo. Era
muita informação nova, muitos conceitos desconhecidos. Jonas não entendia como
levou tanto tempo para se descobrir. Ao mesmo tempo, ele sabia que sua nova
jornada seria longa e que estava apenas começando.
Jonas
comia o sanduíche e pensava na conversa com Pilar, enquanto observava as
crianças brincando em um gramado próximo. Veio nele um pensamento que sempre o
acompanhava em sua infância – desejava ter tido um irmão. Era claro o quanto
ele sempre foi carente de afeto, de companhia e que sua vida se resumiu a viver
na solidão.
Agora,
antes que ele caísse em depressão, as palavras de Pilar lhe lembravam de que
ele teve opções e que, se hoje ele não tinha um amigo com quem compartilhar
suas alegrias e tristezas, era por sua própria culpa. Estava na hora de Jonas
parar de julgar as pessoas e de afastá-las do seu convívio, incluindo seus
pais, tios, primos, colegas de trabalho. Muita coisa tinha de mudar, desde seus
conceitos e valores, até seus hábitos e manias.
Sem
planejar muito que fazer, Jonas fechou
seus olhos, enquanto mastigava o último pedaço do saboroso sanduíche de chorizo
com queijo e tomates secos. Como se estivesse conectado com a natureza, Jonas
ouvia o canto dos pássaros, o balançar das folhas, sentia o perfume das flores,
o cheiro agradável da grama úmida. Sua audição e seu olfato estavam aguçados.
Mesmo sem sua visão, ele podia enxergar uma luz brilhando na sua frente, cada vez de uma cor diferente. Branca, amarela, laranja, verde, prata, sempre clara
e brilhante.
Assim como
planejava Pilar, quando o aconselhou a procurar um lugar tranquilo, ele agora
se encontrava em um estado de consciência pura, livre de interferências. As
luzes que enxergava nada mais eram que energias revigorantes, que o envolviam e
lhe transmitiam um bem-estar nunca antes por ele experimentado. Tudo contribuía
para esse estado pleno de equilíbrio e reflexão.
Sua
produção de energia estava a todo vapor, desde o primeiro momento em que
conheceu Pilar, quando, gentilmente, a resgatou na saída de estação. E, para
que nada disso fosse em vão, Jonas teria de fazer novas escolhas, procurar
novos caminhos que o levariam à evolução. Como executar tudo o que lhe foi
passado? Qual seria o próximo passo para que ele pudesse se encontrar, em sua
verdadeira essência, harmonizando o consciente e o inconsciente em uma só
frequência?
trecho da obra Jonas Dante-Vigo - lançamento em dezembro/2014
trecho da obra Jonas Dante-Vigo - lançamento em dezembro/2014