quarta-feira, 29 de outubro de 2014

UM MIX DE SENSAÇÕES...

Naquela sexta-feira, após tomar o café da manhã, Jonas seguiu para o escritório, como de rotina. Ao dobrar a esquina, observou um carro modelo Ibiza, não muito antigo, parado em um cruzamento. Seu motorista estava com uma fisionomia desesperada, tentando, de todas as formas, dar a partida no veículo, enquanto uma fila de carros se formava atrás. Motoristas enfurecidos, buzinando sem parar, proferiam ofensas múltiplas ao motorista do Ibiza. 

Jonas surpreendeu-se ao perceber que estava diminuindo os passos para analisar melhor a situação. Espantou-se mais ainda quando seu inconsciente começou a trabalhar, despertando nele uma indignação repugnante em relação às pessoas que nada faziam, além de uma vontade incontrolável de ajudar o motorista desesperado. Jonas, sem pensar nem mais um segundo, colocou sua pasta de lado e começou a empurrar o Ibiza sozinho.  

Ao observá-lo pelo espelho retrovisor, o motorista abriu um largo sorriso. Virou a direção no sentido da calçada para estacionar o veículo e liberar a passagem para os estressados catalães, que nada mais faziam a não ser desferir seguidos palavrões e insultos. Tudo foi muito rápido, mas para o motorista foi uma eternidade, e para Jonas um momento único que mudaria, para sempre, sua vida...
 
O fato de Jonas tomar uma decisão de impulso, e ajudar alguém que necessitava, era uma exceção que fugia à regra. Ele ainda não entendia o que havia acontecido, mas não se esquecia do sentimento de leveza, felicidade e satisfação que experienciou durante o incidente. Foi um mix de sensações. Liberdade, independência, segurança... Tudo proporcionado em questão de segundos. Tudo era novo e ele sabia que não era mais o mesmo... 

trecho da obra Jonas Dante-Vigo - lançamento em dezembro/2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MUDAR É SEMPRE PRECISO?

A atual disputa eleitoral tem, mais do que nunca, reinado como o tema principal nas rodinhas de bate-papo, conversas de boteco, discussões de grupos no whatsapp ou facebook e até mesmo em reuniões de negócios. É praticamente unanimidade, pelo menos nas discussões ou trocas de mensagens que presencio, o desejo de mudança do atual governo federal para a volta do partido daquele que parece ter sido o principal responsável pela evolução de nossa economia para niveis dignos de países desenvolvidos e a consequente eliminação dos altos indices de inflação.

Outro consenso que venho escutando por aí é que, apesar das manifestações do ano passado, poucas foram as mudanças nos governos estaduais, na Câmara dos Deputados e no Senado, onde muitas figurinhas carimbadas conseguiram se reeleger ou até mesmo subir de um cargo estadual para federal, ou federal para o Senado. Quando esse não é o caso, é comum encontrar entre os eleitos novos membros de uma familia com tradição na política.

Nunca  podemos generalizar (e nunca dizer nunca). Algumas reeleições podem ter sido justas. Além disso, existem fatos que mostram que seria dificil enxergar nas urnas os reflexos das manifestações de 2013. Mesmo assim, talvez possamos classificar a grande maioria dos reeleitos e dos “promovidos” como falta de coerência ou, como colocaria o grande mestre Adenor Leonardo Bacchi, vulgo Tite, falta de merecimento.

Mas não estou aqui para fazer uma análise política, muito menos futebolística. É interessante sim analisarmos o que realmente almejamos em nosso anseio por mudança. Mais importante ainda é analisarmos o que realmente é preciso mudar para termos um mundo melhor e o quanto estaríamos dispostos a colaborar com isso.

Mudança todo mundo parece querer em pelo menos alguma coisa no mundo ou em suas vidas. Uns reclamam do governo, outros de seus empregos. Uns reclamam do vizinho, outros de sua rotina. Uns reclamam do calor, outros do frio. Nada parece estar bom, sempre há alguma coisa errada. 


Mas quem está certo ou errado nesse mundo de manifestações ou lamentações, onde a grama do vizinho sempre está mais verde e mudar é sempre preciso? Estaria a humanidade sucumbida a viver de acordo com o amor definido por Platão em seu texto "O Banquete", onde quem ama, deseja algo que não tem, pois quando se tem, não se deseja mais?

Assim como muitas pessoas que podem ou não ler esse texto, eu também anseio por mudanças. Talvez muito mais que isso. Anseio por evolução, por respostas, que possam me ajudar a caminhar com confiança, a me conhecer melhor como pessoa, sem levar em consideração os valores e conceitos impostos pela sociedade, onde as mesmas pessoas que fazem trabalho voluntário por um mundo melhor, criticam e excluem quem não age conforme as tradições que elas prezam.

Não venho aqui para julgar ninguém, muito menos para distribuir palpites ou conselhos. Não desaprovo quem faz trabalho voluntário, muito menos aqueles que vão às manifestações. Também me pego muitas vezes reclamando do governo, do calor, da minha rotina. Cada um tem suas virtudes, seus defeitos e suas limitações. O que sei é que todos podemos contribuir para um mundo melhor, começando a mudança por nós mesmos.

Se mudar é sempre preciso, vai depender somente de mim. Ao invés de viver em sofrimento com o amor de Platão, desejando o que não posso ter, prefiro aprender a me amar incondicionalmente, sem levar nada dentro de mim que eu mesmo possa desaprovar, procurando sempre distribuir gentileza e transmitir o bem.